Giovana Cordeiro
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Protagonista de “Fuzuê”, novela que estreia na faixa das 22h no próximo dia 13 de agosto, substituindo a promissora “Vai na Fé”, Giovana Cordeiro despertou para algo que jamais havia imaginado: é uma mulher preta.

Durante a festa de lançamento da novela de Gustavo Reiz, realizada na cidade cenográfica da trama, nos Estúdios Globo, na note de terça-feira, 01de agosto, a atriz conversou com a imprensa sobre sua personagem. E ao ser questionada sobre a representatividade, neste momento em que Sheron Menezzes protagoniza “Vai na Fé” e Barbara Reis, “Terra e Paixão”, surpreendeu na resposta.

“Antes de começar esse assunto, eu não me tenho como uma mulher negra, não me reconheço como mulher negra”, começou Giovana. “Eu acho que na minha trajetória inclusive, como atriz, isso começou a ser um questionamento para mim. Então eu procurei muito saber assim como eu me reconhecia”, afirmou.

A artista carioca de 26 anos, filha caçula de Lílian Souza e de Flávio Trivella, irmã de Natália e Daniela, tem a pele clara. Desta maneira, não se vê como preta.

Giovana cordeiro e o pai, Flavio – Foto: Reprodução/Instagram @cordeirogi

Na entrevista coletiva, Giovana ressaltou que procurou se aprofundar mais na temática racial por conta de questionamentos até mesmo familiares.

“Depois de me informar bastante, de estudar muito sobre o meu lugar, da minha família, da minha vivência, da minha história, eu entendi qual era o meu posicionamento dentro desta questão. Mas o tempo inteiro as pessoas me perguntam, as pessoas me declaram”, afirmou.

Me enxergo nessa brasilidade, nessa mesticidade que a gente que a gente tanto fala, mas tá muito distante de ser uma luta de uma mulher preta”.

Giovana Cordeiro e a mãe
Giovana Cordeiro e a mãe, Lilian – Foto: Reprodução/ Instagram @cordeirogi

VALORIZAÇÃO

A atriz destacou, entretanto, que reconhece a conquista de artistas pretos em lugares onde antes era mais difícil chegar.

“Valorizo muito inclusive esse lugar de conquista tanto da Bárbara (Reis), já que começamos juntas: ela atuando e eu fazendo participação em ‘Dois Irmãos’. Ver essa vitória, ver ‘Vai na Fé’ com todo aquele elenco também de artistas pretos, é maravilhoso”, destacou.

“Fico feliz com esse lugar sendo ocupado por pessoas que merecem, não só porque pelo que representam, mas também pelos artistas que são”, finalizou.

Giovana Cordeiro e Olívia Araújo, em Fuzuê
A personagem de Giovana Cordeiro é filha de Olívia Araújo, em “Fuzuê” – Foto: TV Globo

POR QUE A ATRIZ NÃO SE VÊ COMO MULHER PRETA

Você já ouviu falar em colorismo? O termo passou a ser usado em 1982, quando a escritora Alice Walker, no seu livro “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Look Like?” (“Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?”, em português livre), usou para diferenciar várias tonalidades da pele negra.

Do tom mais claro ao tom mais escuro, como se fosse uma classificação de lápis de cor em tons claros e escuros, esse tipo de classificação, contudo, tem dois lados:  quem tem a pele mais clara, mais próxima da etnia branca, na maioria das vezes, não se reconhece como pessoa preta, ao contrário da retinta.

Funciona como se fosse uma camuflagem e a pessoa acaba criando apelidos como: café com leite, marrom bombom, cor de jambo, morena jabuticaba e por adiante.

Giovana Cordeiro e as irmãs
Giovana e as irmãs Natália e Daniela – Foto: Reprodução/ Instagram @cordeirogi

Ao contrário do racismo, que se orienta na identificação do sujeito como pertencente a certa raça para poder exercer a discriminação, o colorismo se orienta somente na cor da pele da pessoa. Isso quer dizer que, ainda que uma pessoa seja reconhecida como negra ou afrodescendente, a tonalidade de sua pele será decisiva para o tratamento que a sociedade dará a ela.

O fato é que não existe indivíduo “menos negro”, mais semelhante ao branco. Por conta do colorismo, o acesso de pessoas de pele escura a certos lugares da sociedade, o que consequentemente dana ou impede o acesso delas à serviços que lhes são de direito, enquanto cidadãos brasileiros, é diferente daqueles que tem a pele clara.

Atores negros de Fuzuê
Fuzuê tem maioria de atores negros – Foto: Roberto Filho/ Brazil News

O TOM DA PELE CARACTERIZA UMA PESSOA PRETA?

Fenotípicos como cabelo crespo, nariz arredondado ou largo, os traços negroides, entre outros aspectos físicos, que a nossa cultura associa à descendência africana, também influenciam no processo de discriminação.

Giovana, por exemplo, não tem cabelos lisos, destaca nariz largo e lábios naturalmente carnudos.

E são essas características que estão presentes em uma pessoa preta, além, claro, de sua descendência. Pessoas geradas por casais interraciais, por exemplo, se nascem de pele claras, não se consideram pretas… mas são!

Muitas vezes, para ser aceita, a pessoa nega os efeitos do colorismo. De alguma maneira, isso acaba afetando a autoestima, os relacionamentos afetivos, além de ser, mesmo que subliminarmente em alguns casos, explicitamente em outros, um instrumento da sociedade racista na manutenção de espaços exclusivamente brancos.

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Flavia Cirino

É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003.