A agricultura familiar é estratégica para o continente, e o cooperativismo é uma ferramenta para fortalecê-la, indicam ministros das Américas reunidos no IICA

A agricultura familiar é estratégica para o continente, e o cooperativismo é uma ferramenta para fortalecê-la, indicam ministros das Américas reunidos no IICA

“Incluir a agricultura familiar, as mulheres e as juventudes no desenvolvimento dos sistemas agroalimentares”, foi o título de um dos foros de discussão, cujo acionador foi a apresentação de Graciela Fernández Quintas, Presidente da Aliança Cooperativa Internacional para as Américas (ACI).

Durante o debate, colocou-se em primeiro plano o valor social e produtivo dos agricultores familiares, que são, entretanto, os elos mais vulneráveis da cadeia e muitas vezes padecem de pobreza e de inúmeros obstáculos para ter acesso a serviços básicos.

Participam da conferência organizada pelo IICA que acontece até quinta-feira, 5 de outubro, ministros e autoridades da área de agricultura dos 34 Estados membros do IICA, além de altas autoridades nacionais e organismos internacionais, líderes rurais, acadêmicos com reconhecimento mundial e representantes do setor produtivo e industrial.

Foram oradores na cerimônia de abertura os presidentes do Panamá, Laurentino Cortizo, e da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, que foram reconhecidos pelo IICA devido ao seu compromisso com a agricultura e a segurança alimentar na região.

“As cooperativas são atores imprescindíveis do desenvolvimento sustentável”, disse Fernández Quintas, representando a ACI, que tem 315 organizações cooperativas associadas na região.

“Existimos e resistimos ao longo do tempo. No mundo há mais de 3 milhões de cooperativas, com mais de 120 milhões de membros e que geram 280 milhões de empregos, cerca de 10% do total dos empregos mundiais”, explicou.

Produtores na pobreza

Fernández Quintas ressaltou a enorme diversidade dos sistemas agroalimentares do continente, mas advertiu que hoje os habitantes da ruralidade enfrentam um cenário complexo, com milhões de produtores na pobreza.  “Continuamos a observar parcos resultados em comparação com o nosso potencial transformador. Esse é o maior desafio do setor”, reconheceu.

Também admitiu que “a realidade mostra uma população rural envelhecida. Devemos abrir oportunidades para os jovens.  Há extrema necessidade de um relevo geracional no campo”.

Nesse sentido, clamou que as cooperativas tenham voz não só na tomada de decisões, mas que também sejam incluídas pelos países na elaboração das políticas agrícolas.

“Sem produção agrícola — acrescentou Fernández Quintas — não há alimentos nem segurança alimentar, e tampouco há negócios. A agricultura familiar é estratégica, e as cooperativas são uma ferramenta fundamental para aumentar a sua capacidade negociadora, tanto para vender seus produtos como para comprar insumos e ter acesso a serviços”.

Indicou também que, nas Américas, as cooperativas são empresas autogeridas, que manejam recursos financeiros para elas e seus associados e proporcionam oportunidades para o empoderamento das mulheres rurais e espaços de conhecimento aos jovens, com o que se combate as migrações do campo para as cidades.

A Vice-Ministra de Desenvolvimento Rural da Colômbia, Martha Carvajalino, concordou com o papel decisivo para a segurança alimentar que os agricultores familiares desempenham.

“Produzem 60 ou 70% dos alimentos que consumimos, mas são os mais vulneráveis da nossa sociedade; os que padecem de maiores carências em acesso a bens, mas também sofrem um déficit de reconhecimento social”, ressaltou.

Carvajalino disse que, na Colômbia, é imprescindível fortalecer os camponeses tanto para cuidar do ambiente como para conservar a paz nos territórios rurais.

Andrea García, Diretora do Escritório de Estudos e Políticas Agrárias (ODEPA) do Chile, contou que há no país 230.000 produtores da agricultura familiar, dos quais 22% são mulheres.

“Vemos um envelhecimento do setor — admitiu —, e estamos trabalhando para fortalecer os agricultores familiares e camponeses, pela redução dos hiatos que sofrem para ter acesso a recursos naturais e produtivos. Promovemos, por exemplo, o acesso ao crédito para irrigação, que estava fora de alcance para os pequenos agricultores”.