O Paraná havia semeado 18,2% da segunda safra de milho até a semana passada, versus 22,8% da média de cinco anos e quase 40% na mesma época de 2022, enquanto o Mato Grosso do Sul tinha plantado apenas 6,1%, contra 17,3% historicamente e 33,7% um ano antes, segundo dados da AgRural.
“O segundo e terceiro Estados produtores vão plantar mais de 50% do milho depois da janela ideal”, disse o analista Fernando Muraro, à Reuters, alertando que o melhor período de plantio em várias regiões se encerra no final do mês.
Ele lembrou que o atraso se deve a um alongamento do ciclo da soja na primeira safra por temperaturas baixas e mais recentemente a chuvas que dificultaram os trabalhos nos campos, para a colheita da oleaginosa e, consequente, plantio de milho.
A segunda safra de milho do Brasil, também chamada de “safrinha”, responde por cerca de 75% da colheita nacional do cereal. Eventuais frustrações de expectativas poderiam afetar as exportações do país (segundo exportador global do grão) e impactar margens da indústria de carnes de aves e suínos, por custos mais altos do produto usado na fabricação da ração.
Apesar do alerta sobre a maior suscetibilidade da safra a geadas em função do atraso no plantio, o analista da AgRural ponderou que é muito prematuro prever a ocorrência do fenômeno climático neste momento. Mas, se o frio intenso for registrado nos próximos meses, são grandes as chances de uma parcela maior das lavouras estarem sujeitas a perdas.
A AgRural ainda estima aumento de quase 2 milhões de toneladas na safra de milho do Paraná ante o ano passado, para cerca de 15,4 milhões de toneladas, enquanto vê uma redução de cerca de 1 milhão de toneladas ante a boa colheita do ciclo anterior em Mato Grosso do Sul, para 11,2 milhões de toneladas –de maneira geral, ambas previsões são baseadas em linha de tendência de produtividades, ou seja, sem considerar efeitos de eventuais geadas.
“Neste momento, grande parte da safrinha do Paraná vai ser cultivada sob risco, se acontecer qualquer geada, o sul e oeste vão estar em situação muito delicada”, comentou Muraro, dizendo que a situação é semelhante no sul de Mato Grosso do Sul.
O oeste do Paraná tinha menos de 30% da área de milho semeada até a semana passada, versus 77% na mesma época do ano passado.
Geadas foram fator chave para a redução da safra desses dois Estados em 2020/21, quando o Paraná produziu bem menos da metade do que está previsto para a safra atual, enquanto o Mato Grosso do Sul também sofreu perdas severas.
Como efeito das geadas daquela temporada, o Brasil viu suas exportações serem reduzidas em 40% em 2021 ante o ano anterior, para pouco mais de 20 milhões de toneladas, enquanto a indústria de carnes também amargou alta de custos por conta dos preços mais altos.
Para 2022/23, as projeções do governo indicam exportações recordes no ano de 47 milhões de toneladas, repetindo o total embarcado na safra passada, mas isso dependerá do que acontecer com a segunda safra.
SITUAÇÃO MELHOR EM MT
Já em Mato Grosso, que responde por boa parte das exportações do país, a situação de plantio de milho é melhor, com o índice mais próximo da média histórica.
“Mato Grosso não vejo tanto atraso, está até à frente da média de cinco anos”, disse Muraro.
Em sua última estimativa, a AgRural elevou a previsão de safra de Mato Grosso, maior produtor do país, para 45,4 milhões de tonelada, alta de mais de 2 milhões de toneladas ante o número de janeiro e de mais de 4 milhões na variação anual.
O Estado, assim, produziria mais da metade do milho do centro-sul brasileiro, cuja safra está projetada em 88,6 milhões de toneladas, com crescimento de mais de 9 milhões de toneladas ante a temporada passada, segundo dados da AgRural.