De acordo com Shaik Hussain, da Salaam Gateway, diretor da mais renomada plataforma global de inteligência econômica islâmica da atualidade, o produto brasileiro tem imagem positiva e de qualidade no mercado islâmico pelo mundo, mas peca quando o assunto é a certeza de que sua origem é 100% halal.
“Há uma lacuna no que tange uma padronização de todo o ciclo de produção do produto brasileiro. Aos olhos dos países árabes, são excelentes produtos, mas que carecem de uma capacitação total da cadeia produtiva para que possam ter maior acesso e uma ampla confiabilidade por parte do consumidor muçulmano”, colocou.
Na visão dele, compartilhada por outros especialistas que debatiam o tema como Ashraf El-Tanbouly, CEO da Câmara de Comércio Islâmica, Khaled El Atat, COO da Drops – plataforma de e-commerce do Kwait, e do Dr Ryan Calder, da Johns Hopkins University USA, é necessário total rigor dos donos de empresas brasileiras quanto à certificação halal. “Nem todas são autênticas”, resumiu.
Paula Soares, coordenadora da ApexBrasil, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos fez o contraponto, informando sobre o recém-criado “Projeto Halal do Brasil”. “Nosso maior desafio, hoje, é identificar produtores com capacidade de produzir, abastecer em larga escala e de forma constante e capacitá-los para exportar para consumidores halal”, explicou.
Segundo ela, o objetivo é capacitar 500 empresas brasileiras de alimentos e bebidas para o mercado Halal, que adequa o preparo e as características dos produtos a consumidores muçulmanos. “Houve edital que selecionou e dará subsídio para a certificação de 50 empresas nacionais ao longo de 2024”, adicionou Paula.
Essa capacitação abrirá o mercado brasileiro não só para os países árabes, mas para os 57 países muçulmanos, como a Indonésia, que conta com 278 milhões de habitantes e PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 1,4 trilhão.
A capacitação Halal deverá incluir também hotéis e outros estabelecimentos turísticos, com ações como por exemplo sinalizar em quartos de hotéis brasileiros direção de Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos na Arábia Saudita.” As orações devem ser feitas voltando-se para a cidade”, complementou Paula Soares.
Ashraf El-Tanbouly pontuou que iniciativas como a da Apex, que conta com apoio da CCAB (Câmara de Comércio ÁrabeBrasileira), são essenciais. “Não basta somente querer alçar novos voos de exportação a um mercado tão expressivo como o islâmico: são mais de 22 bilhões de pessoas consumindo U$ 1,3 bi em alimentos e bebidas anualmente. Para exportar aos mercados muçulmanos, sua empresa deve estar de acordo com as normais culturais e religiosas destes países”.
“Para isso, seus produtos devem conter o selo Halal – que certifica que sua produção foi realizada dentro do que é permitido pela religião muçulmana. E você deve ser verdadeiro nisso, pois uma certificação sem auditores ou que não é totalmente legítimo, não é autêntico. Isso significaria reconquistar uma confiança quebrada, o que é algo muito difícil para um consumidor muçulmano. Quase impossível, eu diria”, finalizou o CEO da Câmara de Comércio Islâmica.
O Global Halal Brazil Business Forum é realizado em parceria com a Apex Brasil, com a Câmara Islâmica de Comércio, Indústria e Agricultura, e com a União das Câmaras Árabes. O evento tem apoio institucional da Halal Academy.