Lodo de esgoto: fonte sustentável de nutrientes
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Dependendo de seu destino, o lodo passa por diferentes tratamentos para reduzir seu teor de água, estabilizá-lo e evitar sua fermentação e reduzir os riscos de contaminação biológica. Se as infraestruturas ou as características do lodo não permitirem esta valorização, esta é colocada num aterro sanitário.

O tratamento de águas residuais é acompanhado pela produção de uma grande quantidade de lodo de esgoto. Uma quantidade que cresce, de ano para ano, consequência do crescimento demográfico e de uma regulamentação cada vez mais rigorosa. Segundo o Sistema de Informações sobre Saneamento, em 2019, o Brasil tratou 49,1% do total de esgotos gerados. O Marco Legal do Saneamento Básico prevê que aproximadamente 90% da população deve ter acesso à coleta e tratamento de esgoto até 2033. Portanto, a destinação deste lodo representa um problema para os gestores das estações de tratamento de efluentes sanitários. 

As estações de tratamento de efluentes sanitários tratam as águas, esgoto e efluentes produzidos por atividades domésticas e industriais. Enquanto a água tratada é lançada no meio natural (rio, lago, etc.), o lodo de esgoto é o principal resíduo desse tratamento: é composto principalmente por água (mais de 90%), bactérias mortas e refratárias ao tratamento. 

Uma vez coletado nas estações, o lodo é submetido a tratamentos específicos. O primeiro objetivo do tratamento é reduzir a quantidade de lodo: os processos de desidratação (centrifugação, filtração, adição de reagentes químicos) permitem reduzir seu teor de água e obter um lodo pastoso. O segundo objetivo desses tratamentos é “estabilizar” o lodo, ou seja, interromper a atividade bacteriana e o processo de fermentação para limitar os odores e reduzir patógenos. 

Existem três processos para estabilizar o lodo: biológica, química e física. A estabilização biológica é constituída pelo uso de bactérias e algas, podendo ser subdivididos em duas categorias: aeróbico e anaeróbico. O processo químico utiliza produtos químicos como coagulantes, neutralizadores de PH e agentes de floculação para eliminar poluentes do esgoto. A estabilização física remove partículas sólidas do esgoto por meio de separações físicas, podendo ser por sedimentação, flotação e filtração por areia ou membranas.

A qualidade do lodo varia de acordo com as características da bacia de esgotamento. Normalmente, quanto maior o número de indústrias químicas e mecânicas, maior será os contaminantes inorgânicos. Seu conteúdo de matéria orgânica o torna um material secundário com potencial fonte de nutrientes de plantas, podendo ser aplicado em solos agrícolas. Esta prática é uma solução sustentável para reciclar nossos resíduos e os nutrientes contidos neles. 

O lodo de esgoto é rico em nitrogênio, fósforo, cálcio e matéria orgânica. Tratados e cuidadosamente controlados, podem ser um produto para contribuir na economia de fertilizantes. O lodo de esgoto não é um produto para substituir os fertilizantes, mas pode fornecer parte da demanda de nutrientes necessários para as plantas, tornando-se assim um recurso renovável e local. Um desafio da economia circular.

Antes de seguirem para aplicação nos campos para nutrir as culturas, o lodo de esgoto é sistematicamente analisado para verificar sua conformidade sanitária. Desde a produção do lodo até sua distribuição no terreno, cada etapa é regulamentada por rigorosa legislação. A qualidade do lodo aplicado é, portanto, controlada no momento do tratamento na estação. Estas verificações são depois complementadas pelo agricultor, com análises de solo, para verificar se esta correção responde às necessidades de cada cultura.

Valter Casarin é coordenador geral e científico da NPV – Nutrientes para a Vida