O crescimento da produção de soja no Brasil – as projeções são de colheita de 153 milhões a 155 milhões de toneladas na safra 2022/23, um recorde – e a opção do Conselho de Política Energética (CNPE) de adotar um cronograma de aumento gradual da mistura até 2026 devem manter a oferta da matéria-prima em patamar confortável.
Segundo projeções da Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetais (Abiove), a produção de biodiesel deve crescer, em média, 1 bilhão de litros por ano até 2026. O chegará a 7,4 bilhões de litros no fim de 2023 e a 10,4 bilhões em 2026, prevê a entidade.
“Se tivéssemos seguido o cronograma anterior, que estabelecia a mistura de 15% a partir de março, a produção em 2023 poderia alcançar 9,5 bilhões de litros”, avalia Daniel Amaral, economista-chefe da Abiove.
Ainda que o cronograma anterior previsse mistura de 15% (B15) neste ano, o aumento escalonado não desagradou a entidades do setor produtivo. A Abiove classifica como prudente a decisão do governo em adotar um aumento gradual na mistura.
“Existem questões como originação de matéria-prima e contratos de venda, por exemplo, que precisam ser mais bem-avaliadas antes de se elevar a mistura. O aumento gradual é uma boa decisão para o setor”, destaca Amaral.
Segundo ele, o novo cronograma do CNPE também vai aumentar o ritmo de operação das indústrias, prejudicado pelas interferências no programa de biodiesel no último governo. “Hoje, a ociosidade das fábricas está entre 50% e 55%, já incluindo o início das operações de novas unidades. Com a entrada em vigor do B12, a expectativa é que o percentual chegue a 43% no fim de 2022. No ano que vem, a ociosidade deve cair para 35%”, afirma o economista.
A entidade não espera grandes mudanças no quadro de oferta e demanda pelo óleo de soja – principal matéria-prima do biodiesel – no curto prazo com a adoção do B12. A Abiove reduziu em 2,2% sua projeção para o consumo de óleo no mês de março, para 8,9 milhões de toneladas.
Segundo Amaral, o óleo de soja responderá por 70% a 75% de toda a matéria-prima usada na produção de biodiesel neste ano e em 2024. Outros 20% deverão vir de gorduras animais diversas. A fatia restante será composta por óleos residuais e também vegetais, como o óleo de algodão.