Os eventos climáticos ocorridos na semana passada, causando destruição e mortes no Vale do Taquari, deixaram marcas também sobre as cadeias avícola e suinícola da região. Com perdas estimadas em torno de R$ 300 milhões, os dois segmentos tiveram granjas e plantas frigoríficas impactadas e tentam, agora, reorganizar as atividades.
Levantamento da Organização Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav/Sipargs), apontou danos importantes em pelo menos seis empresas. O prejuízo inicialmente estimado gira em torno de R$ 220 milhões, entre estruturas de indústria, aviários, animais mortos ou levados pela água, genética, logística, danos elétricos, máquinas, equipamentos e mercado.
De acordo com a entidade, o Vale do Taquari responde por 21% da produção gaúcha de aves e derivados, embora apenas parte desse número tenha sido afetada pelas cheias dos rios que cercam a região. “Realmente, é um momento crítico para a região e para as indústrias e produtores impactados drasticamente com esta situação, o amparo governamental e de outras instituições será extremamente necessário e vital para a retomada”, avaliou o presidente executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos.
O dirigente disse nesta terça-feira (12) que a entidade tem mantido contato com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação para informar sobre a amplitude do problema. Igualmente, por meio da Associação Brasileira de Proteína Animal, o setor busca fazer chegar ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, a percepção do cenário e a necessidade de socorro ágil e eficaz.
“Contamos muito com os governos estadual e federal neste momento. Precisamos de acesso a linhas de crédito emergencial. Essa é uma situação sem precedentes, que atingiu diferentes setores e, por isso, acreditamos que os governos e as instituições de crédito serão sensíveis à necessidade de celeridade no atendimento de nossas demandas”, observou Santos, ao final de uma reunião com representantes das empresas afetadas.
Na cadeia suinícola, a estimativa de perdas é da ordem de R$ 80 milhões, conforme o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips). Embora a produção de suínos seja expressiva na região, a maior parte da produção está localizada no Norte e Noroeste. Na unidade da BRF no Vale do Taquari, a atividade é parcial, por conta dos colaboradores, impactados pelo ciclone.
Mas a mais afetada foi a planta frigorífica da Dália Alimentos, de Encantado. Ali, as operações estão totalmente paralisadas. Produção, recebimento de animais e abate foram interrompidos porque a água tomou conta do complexo industrial, informou o diretor executivo do Sips e presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do RS, Rogério Kerber.
Os suínos prontos que seriam abatidos pela Dália estão sendo vendidos e levados para outras empresas, comentou o presidente da Associação de criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador. Ele revelou que pelo menos uma granja com criação comercial localizada em Roca Sales foi completamente destruída. Cerca de mil suínos prontos para serem entregues à indústria foram levados pelas águas, junto com toda a estrutura do local. Ele calcula que cada animal pronto tenha um valor agregado em torno de R$ 700,00. Em outro local, no município de Colinas, uma granja cujos leitões haviam sido transferidos para outro local na semana anterior também foi arrasada pela enxurrada.
“Além da perda das indústrias, o produtor associado também deixa receber pelos animais que aprontou e ainda precisará reconstruir tudo que foi levado pela água. Estamos acompanhando a situação para termos a real dimensão do impacto sobre o setor”, disse Folador.