A avaliação da Prefeitura de Campo Grande, que classificou como “excelente” a qualidade do serviço prestado e a frota de ônibus do transporte coletivo foi classificada como “fake” e “piada” entre os adversários da prefeita Adriane Lopes (PP). Reeleita no 2º turno, a chefe do Executivo, a progressista não tem do que reclamar do serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus.
Nem aliados da prefeita acreditam na “qualidade” atestada pela equipe de Adriane. O presidente da Câmara Municipal, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), disse também não acreditar no relatório. Contudo ele joga parte da culpa pelo serviço ruim na prefeitura, que seria responsável pelas principais queixas dos usuários do serviço.
Não aparece lá nas sete páginas do relatório nem sequer um regular ou insuficiente entre os itens pesquisados como pontualidade, eficiência característica e conforto dos ônibus. Ou seja, circular de ônibus na cidade é ponto positivo para a prefeitura, que estaria fiscalizando, e bem o serviço.
Resultado da avaliação vira uma espécie de catálogo que indica se está tudo certo com ônibus e isso colabora com os pedidos de reajustes das passagens. O levantamento em questão refere-se aos meses de agosto, setembro e outubro (ver logo abaixo). Todo o mês, daqui em diante, relatório igual será divulgado no Diário Oficial.
“Uma farsa”
Para a deputada federal Camila Jara (PT), o desfecho da avaliação, contudo, parece manipulado. “Enquanto a Agetran classifica o transporte coletivo de Campo Grande como bom e excelente, quem realmente utiliza diariamente sabe a verdade: a qualidade é péssima”, escreveu a parlamentar em suas redes sociais.
O relatório publicado em questão é parte de um combinado por meio do chamado TAG (Termo de Ajustamento de Gestão) assinado com o “objetivo de promover a eficiência, a segurança e a qualidade do serviço de transporte coletivo em Campo Grande”.
O trato envolve a prefeitura e o TCE-MS (Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul), corte que tem como uma de suas missões a de espionar o serviço prestado pela concessionária do transporte público, se adequado, ou não.
Mato Grosso do Sul real estate
Camila Jara chiou assim pelo resultado otimista da Agetran.
“Chega de maquiagens e falsas avaliações! É hora da gestão [de Adriane Lopes] encarar a realidade e tomar medidas concretas para melhorar o transporte público na nossa cidade”.
Carlão também discordou do resultado do relatório. Para ele, o transporte coletivo “está longe” de ser considerado excelente.
No entanto, para melhorar o serviço, afirmou ele, a prefeitura precisa cumprir um acordo que seria o de repassar uma quantia em dinheiro ao Consórcio, que seria para compensar parte da gratuidade. No caso, pela tarifa não cobrada de estudantes, por exemplo.
Carlão disse que “ficou sabendo” que a prefeitura não paga pela chamada tarifa técnica – a gratuidade, no caso – desde julho passado, três meses, portanto.
“Prefeitura tem de cumprir sua parte. O governo estadual cumpre [repassa recurso à prefeitura pela gratuidade]”, disse o presidente.
Relatório ruim
Reeleita vereadora, Luiza Ribeiro (PT) discordou do “serviço excelente” do transporte coletivo ao ponto de rotular o relatório produzido pela Agetran como “ineficiente”. “[O relatório] é tão ineficiente como o próprio transporte coletivo urbano de CG”, afirmou a parlamentar.
Luiza sustentou ainda ter, por requerimento oficial, pedido que Agetran detalhe melhor o relatório: “Requeremos, por ofício, para que a Agetran nos envie e inclusive publique todos os elementos de dados e sistema de coleta de informações que embasaram o Relatório de Monitoramento dos Índices de Desempenho do Transporte Coletivo em CG”.
Prosseguiu Luíza: “é inacreditável que a gestão municipal considere razoável informações trazidas pelo tal relatório, por exemplo, que expressa como “Conforto Excelente”, seja no pico ou fora do pico. Dá mesma forma, INACREDITÁVEL [reportagem obedeceu ao texto original mandado pela vereadora, em letras maiúsculas], que em qualquer estudo sério, para o transporte coletivo urbano de CG, que a frota seja considerada como excelente. Inacreditável que para o critério Universalidade de atendimento, seja considerada 100% acessível e 94,58% de cobertura do sistema”.
Para a vereadora, a qualidade do serviço do transporte público enxergado pela prefeitura não é o mesmo ofertado pelo Consórcio Guaicurus.
“Então, não estamos falando do mesmo objeto, ou seja, o transporte coletivo de CG que é observado pela população, não é o que está sendo observado pela gestão da prefeita Adriane Lopes. Por fim, pedimos os dados completos porque nos parece MAIS UMA FAKE NEWS da prefeita Adriane Lopes, assim como foi relativamente ao fornecimento de medicamentos que ela alega estar regular e toda população de CG confirma inexistir. Triste cidade administrada por uma gestora irresponsável”, como Luíza Ribeiro.
Sem CPI, consórcio não é incomodado
Luso Queiroz, o concorrente do PSOL na eleição vencida por Adriane, também deu um duro recado à prefeita. Ele caçoou o relatório indicando que o transporte coletivo na cidade seja “excelente ou bom”. Para ele, o favorável parecer dado ao Consórcio é apenas um meio de a prefeitura admitir um novo reajuste das tarifas pelas passagens dos ônibus.
Hoje circular de ônibus na cidade custa perto de R$ 4,75, um dos serviços mais caros do país. Disse Luso que os donos do Consórcio, a quem chamou de “barões do transporte público” já enfrentaram CPIs Brasil afora e, justo aqui em Campo Grande conquistaram o título de empresa excelente, o que beira o absurdo.
O povo “concorda” com prefeita
A opinião do vereador Professor André Luis, do PRD, desconcordou com a dos demais ouvidos por O Jacaré, que reprovaram a ideia de que Campo Grande tem transpor coletivo eficiente.
“O senhor concorda com o relatório?” Respondeu o vereador André: “Mas é mesmo! O povo até votou pela reeleição!!”, reagiu.
O parlamentar justificou, depois, depois, seu raciocínio:
“Você pega um transporte coletivo péssimo, contrato não é cumprido, que não é feito fiscalização [sobre o serviço], é caro, que não tem linhas entre bairros e cada dia mais diminui o número de ônibus e o povo vota pela reeleição da prefeita. A gente fica meio sem argumento, Como eu vou falar mal”, meditou o vereador.
CPI na gaveta
O consórcio Guaicurus só não enfrentou CPI em Campo Grande porque o pedido foi rejeitado logo que chegou à Câmara e nem sequer seguiu para discussão em plenário.
O Consórcio virou concessionário do transporte em dezembro de 2012 por meio de processo licitatório que foi contestado à época. Virou caso de justiça. Pelo prometido, os ônibus seriam novos, equipados com ar condicionado e os passageiros teriam wi-fi à disposição enquanto a bordo dos veículos. Isso não aconteceu.