Levi Asaf: entenda a representatividade e importância do cabelo do intérprete de Marcelino, em ‘Amor Perfeito’
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A novela das 18h está chegando ao fim e em meio ao enredo leve e cativante, repleto de ensinamentos, o público teve a oportunidade de conhecer Levi Asaf, o menino de apenas oito anos que brilhantemente viveu o Marcelino na trama.

A história, em sua semana final, terá como clímax a revelação de que a criança que foi abandonada na Irmandade é, na realidade, o filho perdido da Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida), que havia sido dado como morto.

“Olha, chora Brasil”, disse ele à reportagem de OFuxico ao ser questionado sobre a expectativa para esse momento.

Levi destacou ainda que o momento mais complicado da novela foi quando seu personagem teve o cabelo alisado, numa atitude de Gilda (Mariana Ximenes), para “ressocializar” Marcelino.

“Eu me senti muito mal, desonrado Tiraram minha coroa da minha cabeça!.”

Para quem não sabe, “coroa” é a palavra usada por pessoas pretas para definir os cabelos. E Levi ainda ressaltou que cuida muito bem da sua.

“Eu amo meus cabelos! Um pente já quebrou, quando eu estava tentando pentear, mas tudo bem, mas pelo menos consigo manter minha coroa, sempre”, ressaltou o menino.

Vale destacar que, na novela de Duca RachidJulio Fischer e Elísio Lopes Jr, antes de ter o desfecho merecido. Gilda vai pedir desculpas a Marcelino por todas atrocidades que fez ao menino.

 “Será que você pode me perdoar por tudo que eu fiz de errado e me dar um abraço de despedida?”, implorará. A vilã será perseguida pela polícia e morrerá com Gaspar (Thiago Lacerda).

Por que pessoas pretas identificam o cabelo como ‘coroa’?

Usar o cabelo natural, para muitas pessoas pretas, que eram acostumadas a mantê-los alisados, por padrões estéticos impostos ou simplesmente por gosto pessoal, passou a ser uma maneira de assumir a identidade racial, uma afirmação individual.

Definir um cabelo como “ruim ou bom” tem a ver com os cuidados que ele recebe, e não com as suas características. Uma coisa simples e prática: se eu cuido do meu cabelo, hidrato, uso produtos adequados, ele será bom! Independentemente de ser liso ou crespo.

Mas se fosse somente isso… Numa busca rápida, responda: quantos negros com cabelo rasta você já viu trabalhando em um banco? Quanto empresários com tranças você já conheceu? .

Os cabelos afros (crespo ou cacheado) sempre foram símbolos conhecidos na representação do orgulho, resistência, identidade e luta por liberdade dos negros. Trata-se de uma identidade, uma afirmação que por muito tempo nos foi tolhida. O orgulho de hoje já foi, sim, vergonha para muitos, vítimas constante de bullying, num passado não tão distante. Quem não lembra do lamentável ocorrido entre Ludmilla e Val Marchiori? 

Transição capilar virou moda?

Há quase dez aos o Brasil voltou a viver um momento de empoderamento. E a transição capilar veio com tudo. Pessoas com cabelos alisados ou quimicamente tratados retomaram o cabelo natural crespo, black ou cacheado, uma marca de autoafirmação.

De olho nesse movimento, empresas de cosméticos investiram pesado na beleza negra, algo que, simplesmente, não existia. Era como se “preto não consumisse”, mesmo sendo 56% da população brasileira.

Hoje, em qualquer lugar há prateleiras inteiras de produtos afro, com variedade de produtos, do mais popular ao top.

Coroas empoderam reis e rainhas, mas eram motivo de punição

Quando o pequeno Levi Assaf afirma seu orgulho em “manter sua coroa”, ele não está sozinho. Resgatar a identidade de origem devolveu às mulheres negras o orgulho do próprio cabelo, o que já foi motivo de muita luta.

Em outros contextos históricos, pessoas negras tinham seus cabelos raspados como forma de punição. Alguns historiadores contam que a raspagem era parte importante do processo de diminuir e subjugar a população negra, especialmente homens. As sinhás, com ciúmes de mulheres violentadas pelos homens brancos, também usavam a raspagem como prática de tortura.

Quando uma pessoa negra se empodera, subliminarmente ela mostra que “não se submete às modificações por imposição da sociedade”.

Uma reflexão: Para opinião, não existe verdade absoluta. Mas quando se trata de contexto histórico, é outra coisa. Cabelo afro é sim sinônimo de resistência. É história e transcende a esfera estética. Permitam-nos, então, seguir em frente, reinando onde quisermos e da maneira que desejarmos, com nossas coroas!

Levi Asaf: “Eu amo meus cabelos! Um pente já quebrou, quando eu estava tentando pentear, mas tudo bem, – Foto: Michelle Garcia (@migarciafotografia) e TH Models (@agencia_thmodels)









Flavia Cirino

É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003.